Segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), 77,1% das empresas que tentaram contratar entre o início de 2024 e março de 2025 enfrentaram dificuldades para preencher as vagas, especialmente na faixa etária de 21 a 30 anos. Os dados foram divulgados no último dia 27.
O estudo aprofunda duas pesquisas realizadas pela Fiesp e pelo Senai-SP, em parceria com o Instituto Locomotiva, que buscam compreender a visão tanto dos trabalhadores quanto dos empresários. Um dos dados que mais chama a atenção é a preferência crescente dos jovens pelo empreendedorismo: 58% dos entrevistados afirmam sonhar em ter o próprio negócio, enquanto apenas 11% consideram a indústria como uma opção de carreira — menos da metade do índice registrado na geração anterior.
André Rebelo, diretor executivo de Gestão, Infraestrutura e Construção Civil da Fiesp, explica que fatores como o baixo índice de desemprego e a maior flexibilidade no mercado de trabalho influenciam nesse cenário.
“Os jovens acabam optando por empregos com carteira assinada apenas em situações mais vantajosas, com remuneração significativamente maior, que justifique esse tipo de vínculo”, afirma.

O diretor destaca que a liberdade de horários proporcionada pelo trabalho informal é um dos principais atrativos para os jovens.
“O jovem tem suas responsabilidades e sua demanda por dinheiro”, observa. “A indústria exige um certo nível de especialização técnica. Por isso, muitas empresas optam por contratar jovens e complementar sua formação. Há também a possibilidade de capacitação por meio de cursos oferecidos pelo Senai.”
A perda de atratividade do emprego com carteira assinada foi evidenciada por 67% dos entrevistados, que afirmaram não enxergar mais segurança e estabilidade nesse modelo. Além disso, 64% relataram que o trabalho formal oferece pouca flexibilidade para conciliar a vida profissional com a pessoal. Paralelamente, novas formas de ocupação, como aplicativos de entrega e transporte, vêm ganhando espaço por oferecer maior autonomia e ganhos imediatos.
De janeiro a abril de 2025, o salário real médio dos trabalhadores da indústria paulista registrou queda de 0,8%, segundo o Levantamento de Conjuntura da Fiesp. O indicador considera a média dos salários pagos no setor, já descontada a inflação, ou seja, reflete o poder de compra efetivo dos trabalhadores. A retração mostra que, mesmo com possíveis aumentos nominais em alguns casos, os salários não acompanharam o aumento do custo de vida, resultando em uma perda real de renda para os empregados da indústria.

Embora 41% dos trabalhadores autônomos se declarem satisfeitos, o índice de insatisfação também é significativo, alcançando 27%. Na indústria, esse percentual é bem menor: apenas 6% dos profissionais afirmam estar insatisfeitos. Ainda assim, o setor enfrenta o desafio de combater a percepção de que oferece pouco dinamismo e oportunidades de crescimento, especialmente entre os mais jovens.
“A vantagem do emprego industrial é que se trata de uma relação de longo prazo, com possibilidade de ascensão na carreira. O trabalhador desenvolve um conhecimento e uma habilidade específicos, que serão recompensados com aumentos salariais ao longo do tempo. Além disso, há contribuição para a previdência, o que garante a aposentadoria no futuro — algo essencial, já que todos envelhecem e, em algum momento, vão desejar parar de trabalhar”, reforça André Rebelo, diretor executivo de Gestão, Infraestrutura e Construção Civil da Fiesp.
O levantamento entrevistou 369 indústrias de transformação de diferentes portes e 12 segmentos em todo o estado de São Paulo. O estudo mapeou os principais obstáculos enfrentados pelas empresas na contratação, os perfis profissionais mais procurados e as áreas com maior demanda por mão de obra.
Na avaliação de Leandro Zanini, diretor titular do Ciesp em Americana, a região que abrange Americana, Nova Odessa e Santa Bárbara d’Oeste abriga três setores industriais relevantes.

“O setor têxtil, por exemplo, é muito forte e tem uma cadeia completa na região — desde a fiação até a confecção. Todas essas etapas empregam muita mão de obra e movimentam significativamente a indústria local”, explica.
Segundo Leandro Zanini, o setor químico ocupa o segundo lugar em relevância na região, abrangendo indústrias farmacêuticas, químicas e outras correlatas. Em seguida, destaca-se o setor metal-mecânico, voltado à fabricação de máquinas e equipamentos — ambos com forte presença e capacidade de geração de empregos.
Com base no mapa do emprego regional, o Senai desenvolve cursos direcionados às demandas específicas da indústria local, como explica Patrícia Roberta Storolli, coordenadora de Relacionamento com a Indústria:

“A partir dos dados oficiais, montamos um histórico das profissões e cargos mais relevantes na região e ofertamos cursos que atendem exatamente essas necessidades do setor produtivo.”
Um exemplo dessa conexão entre qualificação e mercado é o Mundo Senai 2025, realizado nos dias 5 e 6 de junho, em Americana. A iniciativa gratuita e aberta ao público tem como objetivo apresentar à população — especialmente aos jovens — as diversas possibilidades de formação e atuação no setor industrial, por meio da infraestrutura e dos cursos oferecidos pela instituição.
“Temos palestras, workshops e uma estrutura de portas abertas aos visitantes, justamente para que a população conheça de perto os cursos profissionalizantes oferecidos pelo Senai”, completa Patrícia.